O refluxo gastroesofágico (RGE) é uma preocupação comum entre pais de bebês pequenos, especialmente quando o bebê “golfa” frequentemente após as mamadas. Enquanto golfadas podem ser normais para muitos bebês, em alguns casos, pode haver uma condição subjacente chamada refluxo gastroesofágico patológico (RGEP). Neste artigo, discutiremos como identificar se as golfadas são normais ou sinal de algo mais grave, as causas subjacentes e as opções de tratamento com base em evidências científicas.
Muitos bebês regurgitam pequenas quantidades de leite após as mamadas, uma condição frequentemente referida como “golfadas”. Essas regurgitações ocorrem porque o esfíncter esofágico inferior, o músculo que impede o conteúdo estomacal de voltar ao esôfago, ainda está em desenvolvimento nos bebês. Em geral, as golfadas não causam desconforto e são uma parte normal do desenvolvimento infantil.
Os sinais de que as golfadas são fisiológicas, ou seja, normais e esperadas, incluem:
Esses episódios geralmente diminuem conforme o bebê cresce e o esfíncter esofágico amadurece, o que ocorre por volta dos 6 a 12 meses de idade. Estudos indicam que cerca de 50% dos bebês apresentam refluxo nos primeiros meses, com a maioria dos casos se resolvendo espontaneamente até o primeiro aniversário (Vandenplas et al., 2009).
No entanto, em alguns bebês, as golfadas podem ser mais frequentes, volumosas e acompanhadas de outros sintomas, como choro intenso, irritabilidade, dificuldade para mamar ou ganhar peso. Isso pode indicar refluxo gastroesofágico patológico (RGEP), uma condição que requer avaliação médica.
O refluxo em bebês pode ter várias causas, a maioria delas relacionada à imaturidade do sistema digestivo. Vamos explorar as principais causas que contribuem para as golfadas e o refluxo.
Imaturidade do esfíncter esofágico inferior: O esfíncter esofágico inferior é o músculo que atua como uma válvula entre o esôfago e o estômago. Nos bebês, esse músculo ainda está em desenvolvimento, o que permite que o conteúdo gástrico suba para o esôfago mais facilmente, resultando em golfadas. Esse processo é fisiológico e melhora conforme o bebê cresce e o esfíncter se torna mais forte.
Alimentação líquida: O leite materno ou as fórmulas infantis têm consistência líquida, o que facilita a regurgitação. Além disso, o estômago de um bebê é pequeno e se enche rapidamente, o que aumenta as chances de refluxo. Oferecer refeições menores e mais frequentes pode ajudar a reduzir a pressão no estômago e diminuir os episódios de refluxo.
Postura horizontal após a alimentação: Bebês que são deitados logo após as mamadas têm maior probabilidade de apresentar refluxo, pois a gravidade não ajuda a manter o conteúdo gástrico no estômago. Manter o bebê na posição ereta por pelo menos 20 a 30 minutos após as mamadas pode reduzir as regurgitações.
Alergia à proteína do leite de vaca (APLV): Em alguns casos, o refluxo pode ser um sintoma de alergia à proteína do leite de vaca. Bebês com APLV podem apresentar, além das golfadas, outros sintomas como diarreia, dermatite atópica, sangue nas fezes e vômitos. Um estudo de Venter et al. (2013) mostrou que até 50% das crianças com refluxo persistente tinham também APLV. Nessas situações, a eliminação da proteína do leite da dieta pode resolver os sintomas de refluxo.
Sinais de alerta: Quando as golfadas podem indicar refluxo gastroesofágico patológico (RGEP)
Nem todas as golfadas indicam problemas de saúde, mas quando os sintomas são persistentes ou interferem no bem-estar do bebê, pode ser um sinal de refluxo gastroesofágico patológico (RGEP). O RGEP ocorre quando o refluxo é mais severo e causa complicações, como esofagite, aspiração pulmonar, ou dificuldade de alimentação. Sinais de alerta incluem:
Diagnóstico e tratamento do refluxo gastroesofágico
Avaliação médica: Se o bebê apresentar sintomas de RGEP, o pediatra pode realizar uma avaliação clínica detalhada e solicitar exames complementares. O diagnóstico de RGEP geralmente é baseado na história clínica e sintomas, mas pode envolver exames como:
Mudanças no estilo de vida e alimentação: Para a maioria dos bebês com refluxo fisiológico ou leve, mudanças simples podem ajudar:
Uso de medicamentos: Para casos de RGEP grave, o pediatra pode prescrever medicamentos para reduzir a acidez do estômago e proteger o esôfago de lesões. Entre os medicamentos usados estão:
Tratamento da alergia à proteína do leite de vaca (APLV): Em bebês com APLV, a exclusão de laticínios da dieta materna (no caso de amamentação) ou o uso de fórmulas extensamente hidrolisadas pode resolver os sintomas de refluxo. Estudos mostram que a dieta de exclusão pode reduzir significativamente os episódios de refluxo em bebês alérgicos (Venter et al., 2013).
Intervenção cirúrgica: Em casos raros e graves de RGEP, onde o tratamento conservador não é eficaz e há complicações graves, pode ser necessária uma intervenção cirúrgica (fundoplicatura). Essa cirurgia fortalece o esfíncter esofágico para prevenir o refluxo, mas é uma opção reservada para casos extremos.
Estudos indicam que até 50% dos bebês apresentam episódios de refluxo nas primeiras semanas de vida, mas a maioria se resolve sem intervenção médica significativa até os 12 a 18 meses de idade (Vandenplas et al., 2009). Para casos mais graves, o tratamento envolve uma combinação de mudanças na alimentação, medidas posturais e, se necessário, medicamentos para controlar os sintomas e prevenir complicações.
Uma revisão de Lightdale e Gremse (2013) ressalta que o uso de medicamentos deve ser restrito a bebês com sintomas graves de RGEP, pois o uso indiscriminado pode trazer mais riscos do que benefícios. Além disso, o diagnóstico cuidadoso para excluir outras causas de refluxo, como alergias alimentares, é fundamental para um tratamento eficaz.
Embora as golfadas sejam comuns em bebês e geralmente façam parte do desenvolvimento normal, é importante que os pais saibam identificar quando os sintomas podem indicar refluxo gastroesofágico patológico (RGEP). Com medidas simples, como manter o bebê na posição ereta após as mamadas e ajustar a dieta, muitos casos podem ser gerenciados com sucesso. No entanto, para casos mais graves, a avaliação e intervenção médica são essenciais para garantir o bem-estar e o desenvolvimento saudável do bebê.
Referências
Lightdale, J. R., & Gremse, D. A. (2013). Gastroesophageal reflux: management guidance for the pediatrician. Pediatrics, 131(5), e1684-e1695.
Vandenplas, Y., Rudolph, C. D., Di Lorenzo, C., Hassall, E., Liptak, G., Mazur, L., … & Staiano, A. (2009). Pediatric gastroesophageal reflux clinical practice guidelines: joint recommendations of the North American Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (NASPGHAN) and the European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN). Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, 49(4), 498-547.
Venter, C., Brown, T., Shah, N., Walsh, J., Fox, A. T., & Meyer, R. (2013). Diagnosis and management of non‐IgE‐mediated cow’s milk allergy in infancy–a UK primary care practical guide. Clinical and Translational Allergy, 3(1), 1-10.
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